
Já ia desligar o computador, quando algo me chamou a
atenção: Ele era fã de Pokémon. Imediatamente senti que várias butterfrees
voavam no meu estômago, isso me atrapalhou a dormir, o sentimento de expectativa
estava grande e isso seria um enorme problema, seriam horas rolando na cama e o
resultado disso seria que acordaria com cara de zumbi e um par de olheiras que
desceriam pelo meu queixo, com sorte talvez ele pudesse achar engraçado, vou
torcer por isso...
Obviamente me atrasei. Ele já estava lá. Ele era bem melhor
que nas fotos, e considerando que tinha passado um bom tempo olhando para elas,
isso prova o quanto ele era incrível. Perante isso existia um outro impedimento:
Será que ele era legal? E foi aí que ele abriu a mochila e tirou um Pokémon de
pelúcia. Quem leva um Pokémon de pelúcia para uma gincana numa manhã de
domingo? O amor da minha vida leva!
Tudo o que ele falava eu concordava. Tudo o que eu falava,
ele questionava. Nossa, tínhamos muitas coisas em comum, o signo era o mesmo,
as opiniões eram semelhantes... Ele era perfeitamente a pessoa que sempre idealizei
encontrar e que achava que existia somente em séries adolescentes americanas.
Ele era a pessoa!
Naquele momento ouvi sininhos, não os sinos mágicos que
ouvimos quando nos apaixonamos, mas o sino de um vendedor de pipoca, pois
estava no meio de um parque lindo, um local ideal para se começar uma grande
história de amor.
Ouço alguém chamar meu nome e imagino que tenha ficado um
bom tempo em transe, percebi que apenas quatro pessoas compareceram ao evento e
as chances de fracassar eram infinitas, não queria ir embora. Daí por diante
tentei me controlar, tinha acabado de sair de um relacionamento e ainda não
estava totalmente recuperado, porém algo me prendia àquele menino, um desejo de
ficar perto, uma vontade de não ir embora.
Ele decide ir ao banheiro. Espero um momento, me controlo
para não ir atrás. Vou atrás e me olho no espelho. Não é tão ruim quanto eu
imaginava: os olhos estão um pouco vermelhos, mas as olheiras não estavam
gritando para eu dormir. Quando voltamos, ele me dá um abraço bem apertado e
sua bochecha encosta na minha. Um arrepio sobe na minha espinha. Preciso me
controlar. Me controlo... Me controlo demais...
Um controle tamanho a ponto de nada ter acontecido. Os meses
se passaram e algumas coisas aconteceram na minha vida. Coisas boas. Coisas ruins.
Mudanças!
Um belo dia, eis que ele aparece para falar comigo. Queria
me convidar para uma festa. Não uma festa qualquer, mas uma festa que eu amava.
Era uma festa à fantasia, ficamos horas conversando, debatendo sobre como nos fantasiaríamos.
Conclusão: fomos de Ash e Pikachu, e foi um grande sucesso! Aquela festa
poderia ser o local perfeito para que uma nova história começasse. Em meio a
uma dança nos beijamos, contudo, sininhos mágicos não soaram, pelo contrário,
tocava É o Tchan...
O que aconteceu? Onde estava aquele encantamento que havia
nascido no parque? Eu não entendi... Ele muito menos...
Mais uma vez o tempo passou...
Faz muito tempo que não conversamos. Um afastamento. Os
eventos com fãs de reality show haviam diminuído, e, desde a festa de carnaval,
parecia que algum tipo de bloqueio havia surgido entre nós. Acho que seremos
apenas amigos, ou nem isso?
É manhã de domingo, e a primeira coisa que faço quando
levanto, é ver se estou com olheiras horrorosas. São quase dez horas e mais uma
vez estou atrasado. Fazia tempo que não ia a nenhum evento de simulador de
jogos, mas dessa vez muita gente havia confirmado. Ele havia confirmado...
Como de costume, cumprimento todas as pessoas com um beijo no
rosto e um abraço e foi nesse momento que recebi o abraço que me fez ouvir
sininhos, sinetas, sinões e sirenes. Que magia tinha aquele parque para me
deixar assim? Como eu poderia me ver interessado em alguém apenas por um
abraço, sendo que com o beijo nada tinha acontecido?
Quando volto para casa, estou pensativo. Não tenho noção do
que fazer e quando estou sem noção faço coisas idiotas como abrir uma janela de
chat e começar a falar sem limites. Alguém precisava me parar, pois minha boca
de metralhadora estava incontrolável, eu não só tinha me declarado, como já
debatia sobre os nomes dos filhos...
16 de abril de 2014, há dois anos...
Chego ao shopping com duas horas de atraso. Com certeza ele
ia me dispensar, eu me dispensaria. E quem é que vai a um primeiro encontro usando
um cardigã? Quem eu pensava que era, algum personagem gay do Glee? Para o meu
conforto ele também não era muito normal. Dessa vez não tinha levado um Pokémon,
tinha levado uma maleta de primeiros socorros, era o seu material de trabalho
da faculdade. Não demorou muito para ele querer me examinar. Estávamos no meio
da praça de alimentação, onde ele me obrigava a colocar a língua para fora,
para ver se eu prestava por dentro (isso foram palavras dele). Fiquei assustado e torci para chegar a hora do
filme. Inventei uma desculpa e saímos da praça de alimentação. Demos a volta em
TODO o shopping a procura do cinema, cinema este que ficava logo à frente da
praça de alimentação.
Foi ali que tudo começou.
Dois anos atrás...
Dois anos de mordida.
Dois anos de carinho.
Dois anos de beijinho.
Dois anos de briguinhas que terminavam em mais mordida,
carinho e beijinho.
Dois anos que parecem cem...
Dois anos podem parecer muito tempo, mas o fato é que a
certeza que tenho nesses dois anos, é a mesma certeza que tive nos primeiros
dois minutos desse mesmo dia...