
Não lembro muito bem como cheguei em casa. Quer dizer, é claro que eu lembro, como poderia esquecer o dia em que meu pai teve que me buscar por que eu estava tão bêbado que não conseguia chegar em casa. A verdade é que a cada dois passos era mais um mar de vômito. Morro de nojo ao pensar que poderia alagar o Rio de Janeiro com a consequência daquele dia vergonhoso.
Não sou de beber, acho que as pessoas podem se divertir ainda mais estando de cara limpa. Mas eu queria sair naquele dia e meus amigos não estavam nem um pouco a fim. Depois de muito insistir, consegui convencê-los, antes não tivesse.
Estávamos nos últimos dias de Carnaval, não que eu seja um micareteiro maluco com colecionador de abadás, mas a verdade é que gosto do Carnaval apenas pelo fato de poder usar fantasia. E eu estava vestido de Harry Potter quando tudo aconteceu...
Sobretudo preto, óculos redondos e sem lentes, gravata (a gravata que eu tinha comprado a um tempo apenas para essa fantasia)... Lá ia eu com meus amigos. As crianças falavam "olha o Harry Potter!" os adultos diziam " Olha o Batman! Não é um Padre..." os babacas sem personalidade eram piores "Já passou da idade", como se eu me importasse. Não sou o tipo que liga para opinião alheia...
Consegui melhorar o ânimo dos meus amigos tentando pensar como eles. Vamos beber pra nos divertirmos! Não fico mais feliz com bebida, mas eles sim! Então eu tive que induzi-los! Mas a magia se voltou contra o bruxo dos óculos sem lente! Depois de (não lembro quantas) caipirinhas, eu estava nocalteado, nojento e numa situação que me envergonha bastante.
Não cometi insanidades como tirar a roupa, ou dançar macarena, ou arrumar briga, muito menos tirar a roupa dançando macarena e arrumando brigas... O máximo que eu fiz foi passar mal... Eu não estava bem e o fato de nenhum taxista topar me levar pra casa era uma grande prova disso.
Estávamos eu Felipe, Elen (sua namorada na época) e Philipe. Não vi quando Felipe saiu pra buscar meu pai, mesmo por que não dá pra ver muita coisa quando se está com a cabeça apoiada numa mesinha de praça. Meu pai chegou, e para minha infelicidade ele tinha vindo com o carro do vizinho, ou seja, outras pessoas também sabiam do acontecido. Logo Nelson Rubens também poderia anunciar no TV Fama, quem sabe até teria concorrência com o Leão Lobo e se tivesse sorte seria a matéria mais reprisada no programa da Sônia Abrão...
Não sei se foi por sorte, ou apenas por magia, mas não ouvi muitos comentários nos dias seguintes. Não conta as lembranças dos "felipes", principalmente quando começaram a criar histórias do tipo: "Você agarrou um Emo"...
Depois daquele dia parei de beber definitivamente. Não somos obrigado a nos comportar como animais (não que eu veja muitos animais por aí vestidos de harry Potter e tomando caipirinha) apenas para parecer legais, por que depois de toda aquela felicidade ilusória você pode ter certeza que virá um disgosto nada, nada, nada mesmo ilusório... Ou seja: