
Por uma fração de segundo sentiu vontade de chorar pela vida safada que levava: Era solteira, sem amigos, não dormia direito por culpa dos miados infernais dos gatos da dona da pensão, e estudou como louca pra concluir a faculdade de jornalismo, para, no fim, terminar trabalhando numa revista falida, sobre artistas de quinta, chamada “Estrelas Decadentes”. Decidiu controlar as lágrimas, jamais faria isso na frente do seu chefe, conhecia muito bem a cabeça maquiavélica de Salgado, para saber que este seria capaz de filmar e colocar tudo na Internet com o título “Baranga em Prantos”.
Em seu velho rádio, uma mulher de voz irritantemente aguda, anunciava o horóscopo. Tudo levava a crer que seria um dia péssimo. Até aí tudo bem. Seus aniversários não eram muito felizes, o mais alegre foi quando passou no hospital, braços e pernas quebrados, havia sido empurrada do brinquedo mais alto do playground, mas pelo menos poderia se empanturrar de sorvete e assistir o que quisesse na TV do hospital.
As últimas palavras da radialista com voz de pata fizeram os pelos da nuca de Alice arrepiarem. Ela terminava assim: “Tudo pode melhorar em sua vida, se você completar a sua missão. Ainda hoje você receberá um sinal que será...”
Jamais saberia o sinal, pois Salgado, acabara de desligar o rádio da tomada, e a olhava como um leão faminto frente a uma lebre suculenta.
Andando de um lado para o outro, o chefe gritava por ela dormir em serviço, ameaçava lhe demitir, reclamava de suas roupas (principalmente do lacinho no alto da cabeça). Enfim, tudo o que fazia diariamente.
Jamais saberia o sinal, pois Salgado, acabara de desligar o rádio da tomada, e a olhava como um leão faminto frente a uma lebre suculenta.
Andando de um lado para o outro, o chefe gritava por ela dormir em serviço, ameaçava lhe demitir, reclamava de suas roupas (principalmente do lacinho no alto da cabeça). Enfim, tudo o que fazia diariamente.
Alice comemorou quando o relógio despertou, anunciando fim de expediente. Já estava de saída quando, inesperadamente, Salgado tirou do boldo uma caixinha dourada e um micro cartão de feliz aniversário. Ela não estava acreditando. Seu chefe estava sendo gentil? Dentro da caixa, um broxe raro da Pop5. No cartão, com uma letra surpreendentemente bonita, palavras que mudariam pra sempre a sua vida.
Alice havia sido escalada para entrevistar um dos ex-integrantes da Pop5! Já haviam se passado 10 anos desde o fim da banda, e ela poderia rever os olhos azuis do rapaz com quem se imaginava casada, morando numa casa de frente para o mar, com três filhos loirinhos, falando inglês e criando um casal de poodle. Ele era lindo, ele era forte, ele era o sonho de consumo de todas as garotinhas abobalhadas do mundo. Ele era “O Cara”!
Dados sobre O Cara:
Considerado o mais bonito da banda, ganhador cinco vezes consecutivas do troféu “Gato Perfeito”, da revista adolescente “Hormônios”. Com o passar do tempo, Cara já não ocupava mais as folhas de revista teens. Sua tentativa como cantor solo não tinha dado em nada, mas, mesmo assim, não se achava uma artista decadente. Sempre marcando presença em programas de auditório, game-show’s e festas badaladas. Cara ainda vivia como se o tempo não tivesse passado. Completamente narcisista nunca encontrou uma mulher boa o suficiente para construir uma família.
CONTINUA...
"Alice no país do Pop" é um texto de minha autoria que estarei publicando aqui no blog. É um texto registrado em cartório, portanto, pense bem antes de copiar...
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