sábado, 22 de junho de 2013

O Zeca

Isso aconteceu numa sexta-feira. Estava um calor infernal. Veja bem, eu AMO calor - fruto da minha infância no Paraná, onde o frio era tanto que me obrigava a usar duas calças. Mesmo morando no bairro mais quente do Rio de Janeiro - que não direi o nome por medo de assaltos, cobranças e testemunhas de Jeová - aquela temperatura estava acima do normal... Meu suor estava suando!

Estava reclamando da vida, das pessoas, de mim e do mundo, quando avistei uma estranha criatura. Parecia um duende, porém como duendes não existem, ele era apenas um rapaz baixo, muito baixo, tão baixo quanto minha autoestima naquele dia. Foi quando o meu telefone tocou e me fez esquecer da vida, ou seja, me atrasei mais uma vez para um compromisso importantíssimo.

Disparei em busca de um transporte, mas eles só existem quando não precisamos. Subi as escadarias da estação de trem, milhões de pessoas horrorosas e com gosto muito duvidoso para vestimentas, aquilo me chateou, mas eu não tinha tempo de fazer caras feias. Tudo parecia uma gincana do Faustão, eu tinha que correr e me desviar dos feios, saltar as crianças, desfazer os casais e chegar ao meu destino. Já sentia o gosto da vitória quando um obstáculo me derrubou. TROPECEI NO ANÃO.

As pessoas riam, apontavam, tinha uma velha ridícula me filmando... Era esse o meu final? Me tornar um viral da internet? Uma Inês Brasil sem peitos? Sem pensar duas vezes eu puxei o rapaz pelo braço, entramos no trem e, antes da porta fechar, eu mostrei o dedo do meio para todas aquelas pessoas fracassadas. Sempre quis fazer isso, desde que assisti Titanic sozinho na sala de cinema.

Aquela figura desgraçada parecia não demonstrar nenhuma reação aos fatos acontecidos e isso era muito estranho, uma vez que o puxei sem nem saber se ele precisava pegar aquele trem, talvez tenha lhe puxado por compaixão, ou apenas queria algo mais ridículo para desviar atenção.

Perguntei seu nome, mas a voz era tão baixa que me fez desistir, por isso o batizei de Zeca, não me perguntem o motivo. Até estava bem vestido e nem feio era, na verdade achei um pouco parecido comigo, ou até mais bonito que eu.... Não, Zeca era lindo! Tentei puxar assunto mais uma vez, sem sucesso, o máximo que captei é que ele possuía um blog pessoal. Já gostei.

O trem parou e, inesperadamente, ele desceu. Sem nada dizer. Sem nada olhar. O mal educado nem se despediu. Nunca mais nos vimos.

O que restou foi um cartão com o endereço do blog. Zeca não era tão invisível assim... Ele nem se chamava Zeca.

7 comentários:

  1. Narrou tão bem Bangu que até mesmo quem não conhece o bairro, saberia de onde se tratava. Gostei mesmo :)

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  2. Adorei seu novo texto! Achei cômico essa é sua marca Hag!

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    1. Que bom que gostou, linda, vou sempre te marcar para gostar dos outros também!

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