quinta-feira, 4 de julho de 2013

O DESABAFO DE UM EX-SUICIDA QUE MORREU DE FORMA IMBECIL

Então ele não sabia onde estava e nem o que havia feito. Era apenas um fracassado que perdeu tudo quando finalmente pensou que pudesse mudar sua história.

http://oceudodia.wordpress.com/2011/03/

Olá, eu sou um ex-vivo e estou morto, mesmo porque ex-vivo só pode estar morto. É meu primeiro dia aqui, nesse lugar que eu ainda não sei onde é, já que meu GPS não está reconhecendo. Ele apitou forte quando o metrô passou pelo céu, inferno, purgatório, mas aqui morreu, assim como eu...

Não sei o motivo, mas aqui não para de tocar Beatles. Começa pelo primeiro álbum, segue por toda discografia, mas ignora as carreiras solo...           

Gente, eu estou morto! MOR-TO! 
Como é? Se estou triste por estar morto?

Estou um pouco chateado de não ter morrido antes das festas de fim de ano... Todas aquelas pessoas aglomeradas para comprar presente de amigo oculto. Detesto pessoas e detesto ainda mais pessoas que brincam de amigo oculto. Na empresa onde trabalho, quer dizer, trabalhava, fui obrigado a brincar de amigo oculto. Confesso que achei engraçado aquele povo reunido enchendo a cara de vinho barato em plena tarde de terça-feira. Eu tirei a mulher mais bonita do setor, uma solteirona de 47 anos, dente escuro e pelinhos incômodos no queixo. Dei um celular e ganhei uma caixa de bombom da gorda do almoxarifado, aliás, ela foi a responsável pela minha morte.

Graças a essa gorda alcoólatra eu morri de uma forma imbecil. Sou suicida de nascença. A última lembrança que tenho de mamãe, antes dela ter me perdido na liquidação maluca dos Supermercados Guanabara, foi ela dizendo que na barriga eu já tinha enrolado o cordão umbilical no pescoço e daí por diante não parei mais. Tentei me jogar do berço, ser mordido por cabras, afogado na sopinha, mas nada deu certo...

Oi? Porque eu insistia em morrer? Simples! Porque esse mundo é uma grande droga e as pessoas nojentas, preconceituosas, traidoras...  E não estou me isentando da culpa! Sou um belo de um porco também!

No colégio todos riam do meu jeito peculiar de sentar em cima das pernas, me chamavam de galinha choca, uma vez colocaram um ninho embaixo da minha carteira... Fiquei com tanta vergonha, gente, até parei de crescer... O mesmo eu não digo do meu nariz.

Cresci e virei um adulto invisível, com um emprego de merda, onde a única felicidade era poder ir “descolado” no fim de semana. Mas eu não sou descolado e odeio gente velha descolada, que merda.
A gorda era descolada, usava minissaia florida e com decote, parecia um abajur de gosto duvidoso... Foi assim que me apaixonei por ela. Nós nos amávamos, éramos um lindo casal, eu era Timão e ela o Pumba. Foi nessa época que voltei a ter vontade de viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno... Noivo!

Decidi pedi-la em casamento, me vesti de Romeu e fui até a porta de seu prédio. Ela não estava sóbria, o cheiro de álcool virava a esquina com toda alegria festejando ao som de Ragatanga.

Eu disse: “Meu amor...” 

Foram minhas últimas palavras... Uma mulher de 78 kg, tinha despencado da janela e aí... MORRI, morri quando mais queria viver...

A gorda? Bem, ela morreu também, não pela queda, mas de cirrose...

7 comentários:

  1. estou tentando controlar minha gargalhada com essa morte estúpida! Na moral, MOOOORRRRREEEEEENDO AQUI! Show, best! Parabéns!

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  2. Me lembra um filme e um livro. A Pequena Loja de Suicídios e óbvio, As Memórias Póstumas de Brás Cubas. Adoro estórias assim, despretensiosas. Adorei :)

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    1. Me senti honrado com o comentário acima. É uma pena não ter se identificado...

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  3. kkkkkk tipo adorei, serio. achei engraçado a parte que ele era bebe e tentava se matar kkkk ...

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