quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

CAPÍTULO 5 - PÂNICO!

ALICE NO FUNDO DO POÇO

EPISÓDIO DE HOJE:

PÂNICO!




Cleptomaníaca: Pessoa que padece de cleptomania, que é um impulso mórbido que o leva a furtar coisas sem valor, apenas para satisfazer o "desejo".

        Uma Pessoa normal manteria a calma e esperaria tudo se resolver de forma civilizada. Uma pessoa como Alice Maravilha preferia agir como culpada, correndo, ofegante, em direção à porta, gritando por advogados e pensando para quem seria o telefonema que daria após ser presa, já que era sozinha no mundo.
            Dizem que em situações de perigo o ser humano desenvolve alguns talentos antes desconhecidos, isso explicaria aquela maçaneta quebrada em sua mão. Agora estava trancada e o que a consolava era que sua força recém-descoberta poderia ser útil quando estivesse na cadeia.
            — Então esse será o meu fim? Vou terminar meus dias na prisão, cercada por presidiárias com taras estranhas? — começou a chorar compulsivamente e jurou que nunca mais pegaria nada de ninguém, mesmo sabendo que não era verdade, uma vez que já estava tentada com uma toalhinha perdida atrás do sofá.
            Não sei bem como se daria a vida de Alice na prisão, talvez um pouco mais movimentada que a atual situação. Seria sortuda se conseguisse o coração de alguma das tais presidiárias com taras estranhas, viraria a princesinha da cela, quem sabe até se tornasse a Primeira Dama do presídio? Bem vantajoso para quem nunca namorou, ascensão na carreira.
            Uma sirene de polícia ecoou por toda casa... Espere, como assim dentro da casa? Aquilo não era uma sirene, era um grito agudo e irritante!
            —Polícia? Eu não roubei nada! — mentiu, após surripiar mais uma fotografia e dois bibelôs da estante. Escondeu-se atrás das cortinas, formando um calombo na parede.
            — Socorro! Socorro! Socorro! Onde está? Apareça ou eu morro! — Um homem alto e histérico gritava pela sala.
            — Por favor, não me prenda, hoje é meu aniversário e não quero ser presenteada com uma noiva careca e fã da Ana Carolina! — Pode parecer deboche, mas Alice estava toda trabalhada nas lágrimas. Abriu os olhos e ficou pensativa. Queria entender a razão de terem mudado o uniforme da polícia.
            O homem usava um pijama e era azul bebê. O homem tinha cheiro de bebê! O suposto guarda tinha o rosto pintado de verde abacate, seria camuflagem? Mas qual o motivo das pantufas?
            Ela encarou o guarda. O guarda a encarou.
            Finalmente a ficha caiu.
            Era o Gato!
            Sentiu-se como Chapeuzinho Vermelho na frente do Lobo vestido de Vovozinha. Onde estava o sorriso lindo? Que toca bizarra era aquela? Aquilo era outro sonho? Ou será pesadelo?
            — Onde eles estão?  — perguntou o ídolo.
            — No lixo! — respondeu a fã.
            — No lixo? Aqui só tem papel sujo, mas que brincadeira é essa, babá?
            — Oi?
            Alice não entendeu nada e, sem nenhum argumento, preferiu consolar o insano cantor decadente que, por sua vez, já havia perdido a compostura. Tomado por total descontrole, o artista ameaçou se jogar pela janela.
            Tudo já havia chegado ao seu limite. Alice agarrou o Gato pelo braço, chacoalhou-lhe pelos ombros e deu-lhe umas cinco bofetadas.
            — Onde estão meus bebês? — choramingou o Gato.
            — Você nunca teve filhos!
            — Não teria sentido contratar a senhora como babá se não tivesse filhos!  
            — Sei tudo sobre a sua vida. Minha adolescência se resume em doces, pornografias e revistas com você na capa!
            Alice era realmente uma esquisita e merecia todos os dramas que a vida lhe presenteava.
            De certa forma o cantor gostou de saber que ainda tinha uma fã. Por alguns segundos sorriu, mas a aparência ainda estava grotesca.
            — Gosta mesmo de mim? Que sorte ter uma babá como você!
            — Eu não sou babá! Sou Alice...      
            — Uma ladra?
            Os alarmes voltaram a berrar e os dois se abraçaram assustados.
            — Eu sou jornalista, vim pra fazer uma entrevista com você. Sou da revista No Fundo do Poço!
            A palavra “jornalista” surtiu um efeito assustador naquele homem, ele correu escada acima como se fugisse de um assassino de filme de terror, era muito narcisista para ser visto pela imprensa naqueles trajes.
            — Volte aqui! Você está lindo... — Os berros foram em vão. A jornalista só voltou a ver o homem uma hora depois, todo montado e lindo de morrer.     
            Enfim, com a serenidade de um idoso oriental, Gato explicou que seus bebês, sua companhia e família, nada mais eram que três bichinhos virtuais, curiosamente chamados de: Lindo, Absoluto e Demais.
            Alice quase caiu desmaiada.


CONTINUA

3 comentários:

  1. Parabéns pelo blog e muito sucesso Diego... :)
    http://eainanda.blogspot.com.br/

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    1. Muito obrigado, quando tiver post novo no seu pode vir aqui divulgar.

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  2. Esses capítulos estão ótimos, cada vez melhores. Esperando a continuação.

    www.eucurtoliteratura.com

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