"Meu Primeiro dia de aula foi confuso, uma sirene de ambulância, ou polícia, ou bombeiro, não parava de gritar, só depois que eu descobri que aquele era o sinal do colégio. "

Eu tinha oito anos quando me mudei, com meus avós, para o Paraná.
Fiz amizade facilmente
(o que não acontece hoje em dia), eu era novidade, com meu sotaque diferente, logo tive meus romances infantis, que na maioria das vezes era resumido pelo interesse em meus brinquedos. Eu tinha a ÚNICA bicicleta infantil, com marcha, da cidade!
Pela primeira vez eu ia estudar no período da tarde, e estava tão
animado que, durante a
noite, eu revirava tanto a na cama, que geralmente acordava no chão. No primeiro dia de aula cheguei cedo, na verdade fui levado cedo, pois minha avó fez questão de me levar ao colégio até a minha sexta série, mesmo o colégio ficando na mesma rua de nossa casa. Me sentei, tímido no canto, entrou uma mulher na sala e chamou por uns nomes. O meu estava entre eles. As crianças chamadas haviam sido transferidas para o turno a manhã, pois a turma estava lotada. Eu chorei!
Enquanto voltava pra casa, fingindo ter caído um cisco no meu olho, pra disfarçar as lágrimas, eu acabei conhecendo uma
garotinha,
garotinha mesmo, porque
conseguia ser mais baixa que eu e isso era surpreendente, pois
eu era uma miniatura carregando uma enorme mochila. Ela tinha mania de cantar aquela música do sabiá (sabiá fugiu pro terreiro, foi cantar no
abacateiro...) e isso além de me divertir, me ajudou em outra situação.
Estávamos em Mil Novecentos e Primário. Certa vez tivemos que escrever uma história baseando-se nas figuras que estavam ao lado. Tinha uma menina, um pássaro e uma gaiola. Fiquei um certo tempo olhando para a figura, sem saber como começar. Depois caiu a ficha e eu comecei a história assim: "Sabiá fugiu pro terreiro..." Tirei a maior nota!
Sempre gostei de ler e inventar, mas eu tratava tudo como brincadeira. No primeiro bimestre tirei as melhores notas da turma, ganhei como
prêmio da professora, uma camisa laranja de
mangas compridas, esta eu usei até que se acabasse. Apesar de gostar de ler, este também era um dos grande s problemas pra mim. Eu lia bem, não gaguejava, mas não conseguia respeitar e nem entender a tal da vírgula, e ficava parecendo um narrador de futebol.
A matemática era outra que nunca fora com minha cara, eu também não fazia nenhuma questão. Ainda na terceira série, tínhamos que responder a tabuada pra uma tia (tia mesmo porque é solteira até hoje)
que ia na sala aterrorizar as criancinhas. Eu só respondia 32 (3 X 4= 32, 5 X 5= 32...). Foi essa mesma tia que me tomou, certa vez, minhas figurinhas de "O Rei Leão". Vaca! A
coleção já estava quase completa, muito
chiclete Ping e
Pong eu tinha comprado por culpa da
coleção, mas ela simplesmente arrancou da minha mão, rasgou e jogou no lixo. Tentei pegar os pedaços, mas foi em vão. Fiquei revoltado e jurei que ia começar outra
coleção, mas foi em vão, pois as figurinhas pararam de ser fabricadas para darem lugar a outras
coleções.
Essa também foi a época dos meus amores
platônicos, quer dizer, essa e as outras que vieram pela frente.
Eu
sempre preferi fazer amizade com as garotas, mesmo porque eu
sempre acabava me apaixonando por elas. Tive uma
namoradinha na terceira série, mas não durou
muito tempo. Como eu sempre vivi no mundo da lua, eu costumava imitar as
coisas da TV, como se a vida real fosse um filme e, da mesma forma em que a
conquistei, deixando uma
cartinha em suja carteira, eu também imitei os filmes, brigando e terminando...
Sem contar que eu não conseguia me apaixonar só por uma, tinha que ser por todas.
Platônicamente, é claro!