ALICE NO FUNDO DO POÇO
EPISÓDIO DE HOJE:
UM MUNDO PERFEITO?
Baixa Autoestima: A baixa auto-estima é caracterizada por uma percepção negativa de si mesmo. Pode ser expressa por crenças como ?eu sou um fracasso?, ?eu não sirvo para nada? ou por uma sensação de incapacidade ou menos valia que é muito difícil de a pessoa conseguir traduzir para si e para os outros.
Sabe quando você
acorda de bom humor e tudo fica magicamente lindo? Bem, eu sei, você sabe, mas
há bastante tempo que Alice não se lembrava como era essa sensação.
— Jamais imaginei que um dia estaria
na casa do Gato. Tudo é tão lindo, que me sinto feia... — Alice foi entrando sem
ao menos alguém abrir a porta, não comandava mais suas atitudes, apenas seguia
ordem da adolescente fanática e diabólica recém-liberada de seu interior.
— Paradinha aí querida! — disse uma
voz suave e assexuada.
— Aonde você pensa que vai? — Uma
segunda voz, agora mais grave.
— Mas que desastre é esse que meus
olhos estão vendo? Queria estar morta! — A terceira, e última voz, era
totalmente feminina.
— Quem são vocês? — Alice fez a mais
óbvia das perguntas, mas não havia mais o que perguntar.
— Me chamo Lindo!
— Eu sou Absoluto!
— E eu Demais!
Alice perdeu o dom da fala. Aquele
trio causava uma mistura de medo e escárnio, cada palavra tinha sua própria
coreografia, cada olhar possuía uma pose de modelo internacional. Aquilo não
podia ser sério.
— Muito prazer, eu sou Alice
Maravilha, colunista da conceituada revista “No Fundo do Poço”. Tenho uma
entrevista marcada com o Gato e não posso perder tempo com vocês.
—
Fofinha, isso é impossível. O Gato não recebe pessoas com problemas de baixa
autoestima! — respondeu o Lindo que era só crueldade. — Essa roupa você pegou
emprestada com o elenco de Barrados no
Baile?
— Alice Maravilha? — debochou Demais
— Obrigada Deus por este dia! Queridinha, me diga, onde está escondida a sua
maravilha?
Alice baixou os olhos, estava se
sentindo uma ridícula, mas no fundo achava aquele trio infinitamente pior.
Olhou para Absoluto, o único que não tinha se manifestado, o rapaz tinha a
expressão de uma porta, era indecifrável.
— E você? Não tem nada pra me dizer?
— desafiou Alice.
— Você é uma feia. — respondeu
Absoluto.
— Eu não sou feia... Só tenho uma
beleza diferente...
— Que bonitinho, eu acredito em
você... E você? Acredita em você? — desafiou Absoluto.
— Se quer mesmo falar com o Gato,
precisa fazer jus ao seu nome. É de seu interesse ficar um pouco mais
confiante, bonita? — perguntou Demais. O que Alice podia fazer? Queria ser
aceita e, portanto, aceitou.
Fechou os olhos.
Luzes de gelatina, cheiro de
chiclete de morango, pipocas coloridas explodiam. A sala era uma pista de
dança. Coelhos dançarinos flutuavam ao som de uma música envolvente.
Era tudo lindo e ela já se sentia
linda também.
De repente, uma fileira de espelhos
surgiu em sua frente. Todos com formatos diferentes e aroma de hortelã. Cada
espelho refletia uma nova Alice. Alice linda. Alice magra. Alta. Loira. Negra.
Homem... Homem? Seu “Eu” masculino era interessantíssimo. Tinha olhos
expressivos e sorriso angelical. Ela já estava apaixonada. Apaixonada e
confusa, afinal de contas estava amando seu próprio Eu! Aquilo era se amar? Sim...
Ela se amava.
— EU ME AMO! — gritou uma jornalista
louca e hipnotizada, no meio de uma rua movimentada. Quanto tempo estava parada
ali, namorando a casa de um artista decadente? Não fazia ideia. Já era a
segunda vez no mesmo dia que tinha sonhos lúdicos e esse clichê já a estava
preocupando.
Envergonhada, descontrolada e, até
mesmo, um pouco assanhada, correu em direção a casa e tocou a campainha.
Não foi recebida por coelhinhos
extravagantes, mas sim por uma governanta idosa e simpática. A casa também não
tinha pipocas, gelatinas ou gatões saindo de espelhos, não que isso
significasse ser aquela uma residência normal. Todas as paredes eram estampadas
com fotos do antigo cantor. Alice tudo fotografava, tudo tocava, tudo queria.
A governanta saiu em busca de um
café para a visitante, ou seja, uma fanática incontrolável estava sozinha na
sala de seu ídolo.
— Preciso me controlar. — Sentou-se
no cafona sofá de couro, cruzou os braços e as pernas. O coração disparava a
ponto de sufocá-la. — O que será que tem no lixo do Gato? — Sem nenhum nojo, ou
mesmo bom senso, passou a revirar a lata de lixo. — Quanto lenço de papel...
Será que o Gato está resfriado? Coitadinho... — E muito animada guardou aquele
lenço nojento no bolso do vestido.
Um alarme disparou.
ÓBVIO QUE CONTINUA
Ual, você escreve muito bem, choquei!!
ResponderExcluirIncrível o modo como você encaixa as frases fazendo elas se conectarem entre si. Amei o texto, as vezes só precisamos olhar para dentro e enxergar o tanto de beleza que temos. Tomos somos bonitos, é só crer nisso!
Meus parabéns, seu texto é de fato maravilhoso.
Beijos
www.pantufa-rosa.blogspot.com
Adoro seus textos, tenho que voltar aqui toda a 5ª :D
ResponderExcluirhttp://www.eucurtoliteratura.com/
Olá Diego.
ResponderExcluirComo disse no face.
Seu blog está muito bom e suas histórias também.
Espero de coração, que você continue.
Beijos
http://leituradelua.blogspot.com.br
CAra, preciso voltar aqui mais vezes! você manda muito bem! Parabéns! :)
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