sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

CAPÍTULO 4 - UM MUNDO PERFEITO?

ALICE NO FUNDO DO POÇO

EPISÓDIO DE HOJE:

UM MUNDO PERFEITO?



Baixa Autoestima: A baixa auto-estima é caracterizada por uma percepção negativa de si mesmo. Pode ser expressa por crenças como ?eu sou um fracasso?, ?eu não sirvo para nada? ou por uma sensação de incapacidade ou menos valia que é muito difícil de a pessoa conseguir traduzir para si e para os outros.

          Sabe quando você acorda de bom humor e tudo fica magicamente lindo? Bem, eu sei, você sabe, mas há bastante tempo que Alice não se lembrava como era essa sensação.
            — Jamais imaginei que um dia estaria na casa do Gato. Tudo é tão lindo, que me sinto feia... — Alice foi entrando sem ao menos alguém abrir a porta, não comandava mais suas atitudes, apenas seguia ordem da adolescente fanática e diabólica recém-liberada de seu interior.
            — Paradinha aí querida! — disse uma voz suave e assexuada.
            — Aonde você pensa que vai? — Uma segunda voz, agora mais grave.
            — Mas que desastre é esse que meus olhos estão vendo? Queria estar morta! — A terceira, e última voz, era totalmente feminina.
            — Quem são vocês? — Alice fez a mais óbvia das perguntas, mas não havia mais o que perguntar.
            — Me chamo Lindo!
            — Eu sou Absoluto!
            — E eu Demais!
            Alice perdeu o dom da fala. Aquele trio causava uma mistura de medo e escárnio, cada palavra tinha sua própria coreografia, cada olhar possuía uma pose de modelo internacional. Aquilo não podia ser sério.
            — Muito prazer, eu sou Alice Maravilha, colunista da conceituada revista “No Fundo do Poço”. Tenho uma entrevista marcada com o Gato e não posso perder tempo com vocês.
            — Fofinha, isso é impossível. O Gato não recebe pessoas com problemas de baixa autoestima! — respondeu o Lindo que era só crueldade. — Essa roupa você pegou emprestada com o elenco de Barrados no Baile?       
            — Alice Maravilha? — debochou Demais — Obrigada Deus por este dia! Queridinha, me diga, onde está escondida a sua maravilha?
            Alice baixou os olhos, estava se sentindo uma ridícula, mas no fundo achava aquele trio infinitamente pior. Olhou para Absoluto, o único que não tinha se manifestado, o rapaz tinha a expressão de uma porta, era indecifrável.
            — E você? Não tem nada pra me dizer? — desafiou Alice.
            — Você é uma feia. — respondeu Absoluto.
            — Eu não sou feia... Só tenho uma beleza diferente...
            — Que bonitinho, eu acredito em você... E você? Acredita em você? — desafiou Absoluto.
            — Se quer mesmo falar com o Gato, precisa fazer jus ao seu nome. É de seu interesse ficar um pouco mais confiante, bonita? — perguntou Demais. O que Alice podia fazer? Queria ser aceita e, portanto, aceitou.
            Fechou os olhos.
            Luzes de gelatina, cheiro de chiclete de morango, pipocas coloridas explodiam. A sala era uma pista de dança. Coelhos dançarinos flutuavam ao som de uma música envolvente.
            Era tudo lindo e ela já se sentia linda também.
            De repente, uma fileira de espelhos surgiu em sua frente. Todos com formatos diferentes e aroma de hortelã. Cada espelho refletia uma nova Alice. Alice linda. Alice magra. Alta. Loira. Negra. Homem... Homem? Seu “Eu” masculino era interessantíssimo. Tinha olhos expressivos e sorriso angelical. Ela já estava apaixonada. Apaixonada e confusa, afinal de contas estava amando seu próprio Eu! Aquilo era se amar? Sim... Ela se amava.
            — EU ME AMO! — gritou uma jornalista louca e hipnotizada, no meio de uma rua movimentada. Quanto tempo estava parada ali, namorando a casa de um artista decadente? Não fazia ideia. Já era a segunda vez no mesmo dia que tinha sonhos lúdicos e esse clichê já a estava preocupando.
            Envergonhada, descontrolada e, até mesmo, um pouco assanhada, correu em direção a casa e tocou a campainha.
          Não foi recebida por coelhinhos extravagantes, mas sim por uma governanta idosa e simpática. A casa também não tinha pipocas, gelatinas ou gatões saindo de espelhos, não que isso significasse ser aquela uma residência normal. Todas as paredes eram estampadas com fotos do antigo cantor. Alice tudo fotografava, tudo tocava, tudo queria.
            A governanta saiu em busca de um café para a visitante, ou seja, uma fanática incontrolável estava sozinha na sala de seu ídolo.
            — Preciso me controlar. — Sentou-se no cafona sofá de couro, cruzou os braços e as pernas. O coração disparava a ponto de sufocá-la. — O que será que tem no lixo do Gato? — Sem nenhum nojo, ou mesmo bom senso, passou a revirar a lata de lixo. — Quanto lenço de papel... Será que o Gato está resfriado? Coitadinho... — E muito animada guardou aquele lenço nojento no bolso do vestido.
            Um alarme disparou.


ÓBVIO QUE CONTINUA

4 comentários:

  1. Ual, você escreve muito bem, choquei!!
    Incrível o modo como você encaixa as frases fazendo elas se conectarem entre si. Amei o texto, as vezes só precisamos olhar para dentro e enxergar o tanto de beleza que temos. Tomos somos bonitos, é só crer nisso!
    Meus parabéns, seu texto é de fato maravilhoso.
    Beijos
    www.pantufa-rosa.blogspot.com

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  2. Adoro seus textos, tenho que voltar aqui toda a 5ª :D

    http://www.eucurtoliteratura.com/

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  3. Olá Diego.
    Como disse no face.
    Seu blog está muito bom e suas histórias também.
    Espero de coração, que você continue.
    Beijos

    http://leituradelua.blogspot.com.br

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  4. CAra, preciso voltar aqui mais vezes! você manda muito bem! Parabéns! :)

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